Rotas caribenhas: etnografia, mobilidade e conhecimento
Apresentação de Handerson Joseph - Universidade Federal do Rio Grande do Sul<br><br>Apesar da longa e forte tradição de estudos caribenhos dentro e fora do Caribe, até pouco tempo atrás a região era uma lacuna na academia brasileira. Esta coletânea rompe com as fronteiras disciplinares e contribui de forma decisiva para preencher esse vazio, ao reunir temas clássicos e contemporâneos intra e extracaribenhos, combinando pesquisas sociológicas e antropológicas com densidade etnográfica em contextos rurais e urbanos e com fortes heterogeneidade e historicidade. Rotas caribenhas: etnografia, mobilidade e conhecimento desnaturaliza o discurso popular, os estigmas e os estereótipos empíricos e teóricos associados ao Caribe. A fina seleção de textos reunidos problematiza o modo de pensar a região no Brasil. A coletânea figura entre uma das mais importantes produções antropológicas brasileiras recentes interessadas nas questões caribenhas, comprometida teórica e politicamente com a região. Ela rompe com o regionalismo metodológico, colocando em diálogo temáticas clássicas e contemporâneas, coloniais e neocoloniais, trocas econômicas, mobilidades, trânsitos, agências, espiritualidades, ancestralidades, terras, casas e famílias. Os leitores e as leitoras terão uma compreensão em profundidade sobre as relações de gênero, trabalho e raça, os laços familiares e de solidariedade, mas também sobre os conflitos entre os humanos e os não humanos. As múltiplas rotas abordadas no livro não dizem respeito apenas às fronteiras geopolíticas e ao mundo dos humanos, mas também às divindades, aos elementos não materiais e artefatos rituais, notadamente as fronteiras simbólicas. Abordando questões sobre espacialidades, temporalidades e subjetividades, a coletânea também explora as construções das corporeidades e a relação entre humanos e não humanos. A obra marca o auge do processo de internacionalização da antropologia brasileira, sobretudo no universo do Caribe e das Guianas, como parte da geografia acadêmica do Brasil. A relevância teórica, histórica e etnográfica dos estudos caribenhos presentes neste livro demonstra o investimento intelectual de uma nova geração de pesquisadores/as e suas múltiplas formas de pensar o Caribe a partir de perspectivas epistemológicas Sul-Sul, pluralizando a antropologia brasileira, colocando-a num lugar privilegiado nas chamadas antropologias mundiais e lançando novas bases, luzes e reflexões sobre, no e desde o Caribe. A coletânea evoca uma polifonia de histórias, vozes e rotas para pensar a pluriversalidade e a heterogeneidade caribenhas, aventando questões importantes e inspiradoras para as teorias etnográficas e antropológicas clássicas. Ela não cai na armadilha teórico-político-metodológica que o antropólogo haitiano Michel-Rolph Trouillot criticava veementemente, ao não silenciar o passado nem exacerbar o excepcionalismo. Os autores e as autoras passam longe do exotismo e do excepcionalismo caribenho com sofisticações teóricas.






